A ingratidão dos filhos e os laços de família



Desde o berço, a criança manifesta os instintos bons ou maus
que traz da sua existência anterior; é preciso aplicar-se em estudá-
los; todos os males têm origem no egoísmo e no orgulho; analisai,
portanto, os menores sinais que revelem o gérmen desses vícios, e
empenhai-vos em combatê-los sem esperar que criem raízes
profundas; fazei como o bom jardineiro, que corta os brotos daninhos
à medida que os vê nascer na árvore. Se deixardes desenvolver o
egoísmo e o orgulho, não vos espanteis de serdes mais tarde pagos
com ingratidão. Quando os pais fizeram tudo o que deviam para o
adiantamento moral dos filhos, e, apesar de tudo, não alcançaram
êxito, sua consciência poderá ficar tranqüila, e é natural o desgosto
que sintam por verem fracassados todos os esforços feitos. Deus lhes
reserva uma grande, uma imensa consolação, na certeza de que isso
é apenas um atraso, e que lhes será permitido terminar, em uma outra
existência, a obra começada nesta, e que um dia o filho ingrato os
recompensará com seu amor. (Veja nesta obra Cap. 13:19.)
Deus não submete a provas aquele que não as pode suportar,
apenas permite as que podem ser cumpridas. Se fracassamos, não
é por falta de condições, mas por falta de vontade, pois quantos há
que, ao invés de resistir aos maus procedimentos, neles se
satisfazem e é a estes que estão reservados os choros e os gemidos
em suas existências posteriores. Admirai, no entanto, a bondade
de Deus, que nunca fecha a porta ao arrependimento. Chegará o
dia em que ao culpado, cansado de sofrer, com o orgulho por fim
abatido, Deus abre seus braços paternais ao filho pródigo*, que se
lança a seus pés. As grandes provas, entendei-me bem, são quase
sempre o sinal de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito,
quando são aceitas por amor a Deus. Para o Espírito, é um momento
supremo, e é aí que importa não se lamentar, se não quiser perder o fruto da prova e ter de recomeçar. Ao invés de lamentardes, agradecei
a Deus, que vos oferece a ocasião de vencer para vos dar o prêmio da
vitória. Então, quando saírdes do turbilhão da vida terrena e entrardes
no mundo dos Espíritos, sereis lá aclamados como o soldado que sai
vitorioso da batalha.
De todas as provas, as mais difíceis são aquelas que afetam o
coração; há os que suportam com coragem a miséria e as privações
materiais, mas abatem-se sob o peso dos desgostos domésticos,
esmagados pela ingratidão dos seus. Que angústia terrível! Mas o
que pode, nessas situações, reerguer a coragem moral senão o
conhecimento das causas do mal e a certeza de que, se há longas
discórdias, não há desesperos eternos, porque Deus não quer que a
sua criatura sofra para sempre. O que há de mais consolador e mais
encorajador do que o pensamento de que depende só de si mesmo,
de seus próprios esforços, abreviar seu sofrimento, destruindo em si
as causas do mal? Mas, para isso, não se deve estacionar o olhar na
Terra e ver apenas uma existência; é preciso elevar-se, planar no infinito
do passado e do futuro. Então, a grande justiça de Deus se revelará
aos vossos olhos e encarareis a vida com paciência, pois tereis a
explicação do que vos parecia como monstruosidades na Terra, e as
feridas que recebestes apenas vos parecerão arranhões. Nesse golpe
de vista lançado sobre o conjunto, os laços de família aparecem no
seu verdadeiro sentido; já não são mais os frágeis laços da matéria
que reúnem os seus membros, mas sim os laços duráveis do Espírito,
que se perpetuam e se consolidam ao se purificarem, ao invés de se
destruírem pelo efeito da reencarnação.
Os Espíritos reúnem-se e formam famílias, induzidos pela
identidade de progresso moral, semelhança de gostos e de afeições.
Esses mesmos Espíritos, nas suas migrações terrenas, procuram-se
para se agrupar, como o faziam no espaço, originando-se as famílias
unidas e homogêneas. Se, nas suas peregrinações, ficarem
temporariamente separados, mais tarde eles se reencontram, felizes
com seu novo progresso. Entretanto, como não devem trabalhar
apenas para si mesmos, Deus permite que Espíritos menos avançados
venham encarnar entre eles a fim de receberem conselhos e bons
exemplos para progredirem. Causam, por vezes, perturbações no
ambiente, mas é aí que está a prova a executar. Recebei-os como
irmãos; ajudai-os e, mais tarde, no mundo dos Espíritos, a família se
alegrará por ter salvo alguns náufragos•, que, por sua vez, poderão
salvar outros.

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